23 julho 2011

O CASO DA CASA DO DR. JAIME UMBELINO





Algumas pessoas têm-nos interrogado sobre o que pensamos àcerca da intervenção artística na fachada da casa que foi do Dr. Jaime Umbelino e é agora a "Fábrica das Histórias". E algumas até criticam  o nosso silêncio - entendido como passividade ou desatenção. 
Entretanto saiu no BADALADAS, em 22 de Julho,  um pequeno apontamento - Bilhete Postal - sobre o caso.
Embora já tivéssemos dado um breve esclarecimento na nossa página do Facebook, pegamos hoje no assunto de uma forma mais aprofundada.

O que se tornou polémico foi a pintura em estilo grafitti da fachada daquela casa.
Tanto quanto nos apercebemos, as críticas vieram, maioritariamente, de pessoas que desconhecem o projecto "Fábrica das Histórias", que nunca visitaram a casa ou sequer a exposição das peças que dela faziam parte.
Por outro lado, verificámos que muitas das pessoas que não reprovaram aquela intervenção conheciam o contexto em que foi realizada - a exposição de trabalhos dos alunos da Escola P. Francisco Soares, inseridos no projecto "Reivent'ar-te". E sabiam, também, que a casa vai sofrer obras de restauro e que aquela pintura seria de carácter efémero.

Pela nossa parte, Direcção da ADDPCTV,  temos de confessar que não houve unanimidade na apreciação. Fomos a imagem das diferenças de opinião que acima referimos.

Vejamos as duas razões:

1ª - as dos que não se opuseram: aquela casa não é apenas uma peça arquitectónica de valor patrimonial, parada no tempo, mumificada, feita para estar ali e ser olhada. Sendo uma casa desabitada, corre o risco de se tornar mais um imóvel a degradar-se. Dado que pertence à Câmara, há que lhe dar uso adequado. E é aqui que começa o problema: que uso? Como fazer face às despesas de manutenção? O projecto "Fábrica das Histórias" surgiu como resposta possível e muito interessante. Mas havia que lhe dar projecção, torná-la visível aos olhos de uma comunidade tantas vezes desatenta. A pintura da fachada, entregue a um artista - Gonçalo Mar -  conhecido de outras intervenções realizadas sobretudo em Lisboa, pintura de carácter efémero, de duração limitada no tempo, surgiu como forma de chamar a atenção para aquela casa e para o que vai ser o seu uso - condição da sua preservação. Em suma, entenderam não se opor desde que a fachada fosse reposta rapidamente no seu estado original.

2ª - razões dos que se opuseram: aquela casa é uma peça importante do nosso parco património arquitectónico dos finais do século XVIII. Como tal deve ser respeitada. A intervenção na fachada é um acto reprovável porque transmite a mensagem de que, para fazer publicidade ou chamar a atenção de uma actividade cultural, tudo é permitido. Para mais, tratando-se de uma exposição de trabalhos escolares, esta intervenção é profundamente deseducativa. Que diremos amanhã a um jovem que resolve pintar uma parede da Igreja de S. Pedro, por exemplo, e que nos diz que tem uma mensagem importante a transmitir? O respeito devido àquele edifício não deixa de ser violado com a desculpa de que a pintura é efémera.

Uma coisa é certa: essa pintura que foi feita nos princípios de Maio ainda hoje lá está, prolongando abusivamente no tempo uma presença cuja justificação se ligava à exposição do "Reinvent'ar-te" -  patente ao público de 7 a 27 de Maio. Já se passaram quase dois meses. Não será já tempo de repor a verdade daquela fachada, restituindo-lhe a dignidade austera que a caracteriza?

No contacto que hoje fizemos com a Câmara Municipal de Torres Vedras recebemos a informação de que tal irá acontecer no próximo mês. Ficamos a aguardar.

2 comentários:

  1. A actual fachada da casa é de facto muito agressiva para o conjunto arquitectonico onde se insere, mas se esta está a ser a forma de realmente chamar a atenção para a obra lá existente e que todos devemos conhecer, então creio que o objectivo ficará cumprido e logo se voltará a encontrar com a sua traça original.

    Povo de Torres Vedras, vamos incentivar as artes nesta cidade, temos condições, precisamos de atitude. Vamos para a rua mostrar o que sabemos fazer.
    Vergonha é deixarmos a cidade sem actividade. Vamos lá a atrair gente de fora para esta Linda cidade.

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  2. Viva,

    Sem pretender definir à priori uma posição a favor ou contra, acho que este caso levanta questões / dúvidas, tais como:
    1- Na Casa Jaime Umbelino, enquanto património classificado como de interesse municipal, é possível fazer pinturas ou inscrições na fachada ? Se sim, teria de haver consentimento do IGESPAR ?
    o Artº 41 da Lei do Património diz « Artigo 41.o
    Inscrições e afixações
    1 — É proibida a execução de inscrições ou pinturas em imóveis classificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou em vias de classificação como tal, bem como a colocação de anúncios, cartazes ou outro tipo de material informativo fora dos locais ali reservados
    para a exposição de elementos de divulgação das características do bem cultural e das finalidades e realizações a que corresponder o seu uso, sem autorização da entidade responsável pela classificação»

    2- É interessante ver como a CMTV preverteu a lógica do Grafitti, agora parece que só a CMTV é que tem autorização para fazer Grafittis oficiais e pinturas murais (street art)...p. ex no Parque de estacionamento e na rua do Império. Enquanto isso a CMTV apagou grafittis genuínos (feitos por miúdos da rua com talento artístico) de muito boa qualidade que existiam em T. Vedras (não me refiro às garatujas, refiro-me a0s desenhos/pinturas). Ou seja, o poder político pretende ser o detentor do gosto e o produtor da "street art" ??? Um género artístico que nasceu no gueto, no underground, nos subúrbios e em meios marginais é agora praticado pelas instituições oficiais, eliminando o que restava de genuíno ?!?!

    3- Estando a Casa Jaime Umbelino no limiar do Centro Histórico e por ser património classificado não deveria obedecer ás mesmas regras do Plano de Salvaguarda ?

    Cumprimentos,
    Rui Matoso

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